quinta-feira, 1 de março de 2007

eterno sofrimento?

Na mitologia grega está Prometeu, um titã grego que roubou o fogo divino de Zeus para dá-lo aos homens, que assim puderam evoluir e distinguirem-se dos outros animais. Como castigo Zeus ordenou que Hefesto o acorrentasse em um rochedo do monte Cáucaso, onde todos os dias um abutre iria comer-lhe o fígado que, sendo Prometeu imortal, voltava a regenerar-se, sendo assim o seu castigo interminável.

Em 1925, mais de oitenta anos atrás, quando os carros mais pareciam carroças com suas rodas de madeira e os homens usavam chapéus e bengalas como forma máxima de elegância, o arquiteto Gregori Warchavchik escreveu em sua coluna do dia 1º. de novembro no Correio da Manhã um texto chamado Acerca da Arquitetura Moderna, o qual reproduzo dois trechos abaixo:

“…em nome da Arte, começa a ser sacrificada a arte. O arquiteto, educado no espírito das tradições clássicas, não compreendendo que o edifício é um organismo construtivo cuja a fachada é sua cara, prega uma fachada postiça, imitação de algum velho estilo…”

“…a diferença que o que era tão só uma necessidade construtiva tornou-se agora um detalhe inútil e absurdo. Os consoles serviam antigamente de vigas para os balcões, as colunas e cariátides suportavam realmente as sacadas de pedra. As cornijas serviam de meio estético preferido da arquitetura clássica para que o edifício, construído inteiramente de pedra de talho, pudesse parecer mais leve em virtude de proporções achadas entre linhas horizontais. Tudo isso era lógico e belo…”

Na era do rádio, Warchavchik e seus companheiros de prancheta que defendiam uma nova arquitetura já repudiavam os pastiches e classicismos vigentes na época, em pró de uma arquitetura livre de adornos e condizente com o período histórico em que se vivia.

Em 2007, na era da internet, da aldeia global, dos carros elétricos e dos tênis biônicos, ainda temos que encontrar novos edifícios neo-qualquercoisa em nossas cidades? Por quanto tempo ainda veremos o neoclássico ser adotado por diversas incorporadoras como “estilo” arquitetônico oficial e algumas ainda colocando em seu material de venda: “moderna fachada em estilo neoclássico” e pior, parte da população tomando isso como verdade e num geral gostando deste decorativismo.

A cada cornija, a cada friso e cada novo frontão que vejo em nossas ruas, muito deles projetados por arquitetos recém saídos dos bancos das faculdades (APRENDERAM O QUE????) me sinto como Prometeu, com o castigo eterno como destino.

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