sexta-feira, 29 de junho de 2007

Caminhando por La Plata...

"A arquitetura que só produz objetos, agride o meio ambiente, ocupa o solo sem sentido e só gera imagens negativas..." (Ruben Pesci)

Durante uma bela caminhada pelas ruas de La Plata, depois de haver passado pela espetacular casa Curutchet na mesma rua encontrei essa bela casa branca...

Uma bela ocupação do terreno, respeito ao tecido urbano consolidado, criação de um terraço jardim sobre as garagens, escala adequada... enfim, tudo que se busca em uma boa arquitetura.

Perguntando aos meus amigos argentinos sobre o autor deste projeto, eles me disseram que é do arquiteto Ruben Pesci, autor da frase que começa o texto e presidente do conselho superior da CEPA (Centro de Estudios y Proyectación del Ambiente), mais do que famosos pelos seus textos e projetos de intervenções urbanísticas sustentáveis.

Pelas fotos da casa da rua 54 se percebe que Pesci não ficou apenas na teoria, ele não projetou apenas um objeto.

Procurei mais informações sobre a casa acima, mas não encontrei... se alguém souber algo mais sobre ela, favor complementar o post.

ps.: o próximo texto será a continuação da casa feita pelo Corbu na mesma rua 54.

domingo, 24 de junho de 2007

O que os olhos não vêem, o coração não sente... - Alvaro Siza, minimalismo de fachada?

Recebi nos últimos dias dois grandes amigos argentinos, ambos arquitetos, e entre os passeios arquitetônicos, gastronômicos, culturais e etílicos... passamos pelo futuro Museu Iberê Camargo, em Porto Alegre.


Projeto do Pritzker Álvaro Siza, foi vencedor do Leão de Ouro na Bienal de Veneza... Mais do que merecidamente o projeto é lindo, um autêntico Siza!!! Conciso, silencioso, belo... localizado em um local com uma visual única da cidade de Porto Alegre.


Conseguimos marcar uma visita à obra, o que me deixou bastante contente uma vez que ainda não tinha entrado nela... e não é que o minimalismo do mestre Siza, nesta obra, é apenas formal!!! Que decepção... uma obra toda feita com paredes de concreto branco com aproximadamente 30 cm de espessura e com uma execução impecável... está recebendo em seus interiores quase 50.000 m² de gesso acartonado para revestir essas paredes e esconder instalações... minimalismo para inglês ver!



Mas como diz o título deste post... o que os olhos não vêem, o coração não sente... depois da obra terminada, Siza vai receber todos os aplausos do mundo e poucos vão perceber a tremenda enganação que é uma obra que possui linguagem minimalista, mas resoluções construtivas cheias de decorativismos e excessos...

As fotos são do arquiteto Nicolas Bailleres, na primeira uma vista geral do conjunto... na segunda uma vista interna e por fim uma sobre a cobertura do museu... onde não há nada que desfrute esta espetacular vista... o café está no térreo da edificação...

Mas mesmo com estes problemas e decepções arquitetônicas - esperava soluções contrutivas tão concisas quanto a forma do prédio, e também o máximo proveito das visuais que o terreno permite - obrigado Fundação Iberê Camargo, é um lindo marco arquitetônico para a cidade de Porto Alegre.

Mais informações sobre o projeto: http://www.iberecamargo.org.br/content/novasede/perfil.asp

terça-feira, 19 de junho de 2007

Gentilezas urbanas...

O arquiteto e político (ou seria o contrário?) Jaime Lerner escreveu um livro há algum tempo sobre gentilezas urbanas, pequenas atitudes que podemos tomar para deixar nossa cidade mais bonita, gestos e coisas que podemos fazer para tornar mais agradáveis as nossas vidas e as dos outros.... se não me falha a etílica memória o nome do livro é "Acupunturas Urbanas" (só catando ele no escritório para ter certeza)

Pois bem, perdido pelas ruas do boêmio bairro Palermo, na capital porteña, olha que beleza de lixeira encontrei...

ok um pouco kitsch, eu concordo... mas nem por isso menos gentil...

domingo, 17 de junho de 2007

Bobagens de um dia frio de domingo...

Vendo o belo filme a Casa do Lago, já citado pelo Gabriel anteriormente, onde um dos protagonistas, o seu pai e o seu irmão são arquitetos... nos extras do DVD tem uma cena excluída onde discutem:

- Quem sabe abrimos um escritório de arquitetura self service? O cliente faz o projeto e nós não deixamos que caia o teto...

(piada sem graça, mas quantos eu conheço que tem seus escritórios quase self service, e ainda não se deram conta disso...)



E aqui no sul do Brasil, o inverno chegou... frio, muito frio... nada melhor que filme, vinho e lareira...

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Eu sei como é uma flor.... - Maison Curutchet (1)


Eu sei como é uma flor e quem sabe como é uma flor, sabe como é qualquer coisa.

Com a frase acima Le Corbusier, ainda um jovem estudante de desenho, afirmou a um professor que podia projetar uma casa e assim o mestre fez muitas e muitas vezes, simples e geniais soluções formais e espaciais que mudaram a história da arquitetura em todo o mundo.

E como quem desenha uma flor, Corbu (para os íntimos) projetou por correspondência a Maison Curutchet em La Plata, capital da província de Buenos Aires, uma de suas duas obras na América do Sul (a outra está no Chile) uma casa e consultório de um médico platense, amigo de Victoria Ocampo.

Projetada em 1949 e finalizada em 1955, depois de dois arquitetos e um engenheiro passarem pela condução da obra, creio que o proprietário o dr. Curutchet não era um cliente fácil de lidar...
O primeiro arq. a conduzir a obra, foi o argentino Amancio Williams (autor da célebre casa ponte em Mar del Plata), que acabou tornando-se amigo de Corbusier, mas que após finalizada a estrutura de concreto armado o proprietário o demitiu e disse que não o queria nem a 200 metros de distância de sua casa... após Williams passaram o arq. Simon Ungar e por fim o engenheiro Alberto Valdez...

Depois de finalmente concluída a casa, a família não gostou de viver em uma casa modernista e alegou que a mesma era inabitável... o consultório do dr. Curutchet ficou durante mais algum tempo na casa, que hoje é sede do colégio de arquitetos da província de Buenos Aires.

É impossível em um único post escrever tudo que essa casa merece, então neste primeiro apenas provoco... mostro um croqui do mestre e uma foto externa da casa nos dias de hoje... no próximo conto mais algumas histórias e mostro mais algumas fotos...

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Site do Dia (19) - De volta ao Chile... óbvio, porém necessário

Algumas coisas às vezes nos parecem óbvias... lugares comuns... ir a Barcelona e visitar as obras de Gaudi... tirar fotos em frente a Torre Eiffel em Paris, comer um bife de chorizo em Buenos Aires, ver o Cristo no Rio...

Quando tratamos de Arquitetura nao é diferente, alguns Arquitetos são unanimidades e quando falamos em Arquitetura chilena Mathias Klotz é tão clássico quanto um vinho Carménère (que os chilenos se orgulham em dizer que esse vinho autêntico, é proveniente das vinhas chilenas...).

Com pouco mais de 40 anos de idade, Klotz foi publicado e republicado por revistas e periódicos em todo o mundo, sua obra fala por si.

Visite, apesar de conhecido, vale à pena:

http://www.mathiasklotz.com/


Acima imagem da Viña Las Niñas, projeto do ano 1.999.




quarta-feira, 6 de junho de 2007

Céu de Brasília, Traço do Arquiteto...


A primeira vez que visitei Brasília, tinha 12 anos. Confesso que não entendi a cidade: Faltavam prédios, tudo era longe... mas achei interessante: era diferente de todas as (poucas) cidades que conhecia. Quando da segunda, já aos 18 anos e recém entrado na faculdade de arquitetura, tive uma outra visão da capital, embora o envolvimento com um evento etílico-acadêmico na UNB tenha minado um pouco a minha percepção de toda aquela aula de modernismo ao ar livre e em tempo real.
O ano era 1994 e, desde lá, sei que muita coisa mudou no planalto central... o metrô está pronto (embora os brasilienses só reclamem dele), a densificação e a especulação imobiliária passaram a ameaçar o patrimônio da humanidade a ponto de a pressão pela moradia de classe média fazer surgir uma "Brasília alternativa", Águas Claras, a meio caminho entre Taguatinga e o Plano Piloto, densa e verticalizada, misto de Barra da Tijuca com Morumbi e Balneário Camboriú, coleção de exemplares de arquitetura de qualidade duvidosa (mal que assola todas as nossas metrópoles) e que, ao rés do chão, parece uma cidade inacabada. Lá, em matéria de índices construtivos, me contam que tudo é possível. É o modernismo às avessas.
Além disso, Niemeyer plantou mais algumas de suas excentricidades, amadas por um e odiadas por outros, na forma de novas sedes dos tribunais, projetadas e construídas a peso de ouro, só fazendo com isso alimentar as críticas ("está senil", chegaram a dizer... quanta ignorância).
Agora, minha 3a. edição, revista e ampliada, terá mais uma oportunidade de aprender as lições (de como fazer e de como não fazer) ensinadas pela capital. Além de servir de guia aos meus acompanhantes, estreantes no centro do poder. Há de ser divertido. Costuma-se dizer que Brasília ou se ama ou se odeia. Com base nas experiências anteriores, Algo me diz que me aproximo mais do primeiro grupo.

terça-feira, 5 de junho de 2007

De Volta Para o Futuro

Faculdade de Arte e Arquitetura de Yale

O Trabalho de Paul Rudolph me foi introduzido pelo Professor Silvio Rocha, como referência de pesquisa para um projeto que desenvolvia em um ateliê da faculdade. Nossos assessoramentos eram altamente dispersivos (projetamos até um carro popular de 6 lugares em um deles, ao tentar resolver uma cozinha), embora inegavelmente produtivos, em termos de cultura arquitetônica. O fato é que Rudolph foi um dos mais inventivos arquitetos norte-americanos do século XX; sua obra, onde fez farto uso com muita expressividade de um material inusitado na terra do Tio Sam - o concreto, em todas as formas e texturas possíveis - encerra uma complexidade interessante, que, ao mesmo tempo que se afirmava como uma obra de vanguarda, futurista até, e negava a arquitetura tradicional de arcos e colunatas, contrastava com a simplicidade modernista da qual era contemporânea. Embora sua obra mostre que ele bebeu da fonte de Mies Van der Rohe e Le Corbusier, Rudolph soube compilar essa bagagem com um resultado que soava bastante americano.

Artigo muito interessante do New York Times, de março deste ano, relata uma "viagem temática" pela obra de Paul Rudolph (falecido em 1997), em grande parte concentrada no nordeste dos Estados Unidos (ele teve também uma produção tardia importante no oriente, em Singapura e Hong Kong, quando os construtores norte-americanos já o rejeitavam), que não só fala dos exemplares mais significativos de sua produção como também relata sobre seu estado atual (as que não foram demolidas ou desvirtuadas), inclusive conversando com ocupantes e residentes das edificações.

Há passagens interessantes, algumas até divertidas, como a do funcionário da prefeitura de Goshen, Nova York, que conta que o inusitado prédio projetado por Rudolph, um emaranhado de caixas de concreto sobrepostas, tem 87 lajes de cobertura - e que TODAS vazam. Destaque também para a bizarra história do entregador de comida chinesa que, em 2005, ficou 3 dias perdido em meio ao emaranhado de corredores do instigante conjunto residencial Tracey Towers, em Nova York, cuja planta-baixa onde ângulos retos são raros confunde até mesmo moradores antigos, o que certamente dificultou o resgate.

Vá lá e exercite o seu inglês... não dói:

http://travel.nytimes.com/2007/03/23/travel/escapes/23rudolph.html?pagewanted=1

Rua das Tentações

Os caretões Sam e Alex chegam à casa da mãe Joana: Tudo pode acontecer.
Mais uma boa pedida para aquela pausa nas plantas baixas, cortes elevações e perspectivas: Quase sem querer, topei com "Laurel Canyon", filme independente de 2002, da ainda desconhecida diretora e roteirista americana Lisa Chlodenko, numa dessas madrugadas zapeando pela TV a cabo. É um filme que está em várias locadoras (eu mesmo já vi na minha, mas nunca pensei em pegar).
"Laurel Canyon" mostra uma ironia e desprendimento normalmente ausentes no cinemão americano... E é uma história muito bem contada: Sam, um médico psiquiatra recém-formado em Harvard, quadrado e caretão (Christian Bale, competente), muda-se para L.A. a fim de estagiar em um hospital local, levando consigo Alex, sua retraída e tímida noiva (Kate Beckinsale, espetacularmente bela), de família puritana e tradicional, que busca tranqüilidade para terminar uma complexa dissertação de mestrado em genética.
Chegando à casa em que ficariam e que, supostamente, estaria desocupada, na chique e tortuosa Laurel Canyon Boulevard (uma rua que existe mesmo, serpenteia morro acima proporcionando paisagens espetaculares), deparam com Jane (Frances McDormand, uma das melhores atrizes americanas da atualidade, impecável como sempre), a permissiva e porra-louca mãe de Sam, uma conceituada produtora musical que vive como se estivesse nos anos 70, às voltas com a finalização (em um estúdio localizado na casa, diga-se de passagem) do álbum de uma banda moderninha, com cujo vocalista, bem mais jovem do que ela, adora trocar amassos, fumar um e beber até cair.
A partir daí, o choque de realidade que desaba sobre Sam e Alex provoca uma espiral de acontecimentos com desfechos imprevisíveis... Alex, que passa os dias na casa, relegada à solidão em um mundo diametralmente oposto ao seu, busca estímulo para continuar seu extenuante trabalho enquanto começa a simpatizar com a sogra e a se interessar cada vez mais por aquele clima "sex, drugs & rock´n roll" que permeia o ambiente, passando cada vez mais horas no estúdio de gravação e menos ao notebook... Sam, enquanto isso, alheio ao isolamento da noiva, entra em conflito com sua mãe, a qual desdenha de sua caretice, e aproxima-se de Sara, uma residente israelense de seu hospital (Natascha McEllhone, a enigmática terrorista de "Ronin").
Enfim, Um filme que vale a pena, e que fala de realidades conflitantes e, principalmente, sobre como podem ser frágeis os laços que unem as pessoas, seja lá qual for seu grau de relacionamento, e do quanto é preciso dar atenção, sempre, aos que nos cercam, a fim de manter o vigor dessas ligações. Olho vivo na camiseta do AC DC, e em quantos corpos ela vestirá ao longo da película.
Mas que diabos isso tem a ver com arquitetura? Nada, oras... mas é preciso viver, para além do CAD e da prancheta. Veja o filme, tome uma cerveja, relaxe, namore...
Ah, mas essa casa, em Laurel Canyon, é bem legal:

Projeto do escritório Orenj, de Los Angeles. Mais informações e, de quebra, dica de outro blog bem legal, que fala de arquitetura e afins:

http://www.tropolism.com/2007/01/tropolism_buildings_the_laurel.php