segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Vidinha de superquadra (*)




Aterrissando, matéria interessante, publicada no ArcoWeb:


Gozado como escrevem que "a utopia cedeu espaço a realidade" quase com a mesma mágoa de quem fala de um filho que virou bandido... a evolução da sociedade é algo muito imprevisível e era inocente demais acreditar que ela fosse "se adaptar" ao modelo de cidade proposto pelo Lucio e pelo Oscar. Eu acho engraçado como o pessoal aqui torce o nariz pra reclamar da "degradação das superquadras", mas continua a disputar a tapa o direito de pagar R$ 500.000 por apartamentos de 3 dormitórios de mais de 40 anos de idade, que são anunciados num dia e vendidos no outro, fazendo a alegria dos corretores de imóveis. Por que será? Simples: Porque o melhor modo de vida de Brasília ainda está e sempre estará nas Superquadras. Tá certo que as opções não ajudam: Fora lá, ou a classe média paga os mesmos 500 mil ou mais por um apê bacana no Sudoeste, que reproduz em parte - e com certo sucesso - o modelo urbanístico existente nas asas (mas a arquitetura... quanta diferença!) ou vai com a manada, paga a metade e aceita ser espremida 20km mais pra lá, para uma aberração urbanística chamada Águas Claras. Lago Sul, Lago Norte, Park Way, são para poucos: Tudo na casa dos 7 dígitos.


De qualquer modo, com todas as adaptações que a "vida moderna" exigiu delas, não adianta. Vidinha de superquadra é o que há. Ah, e confesso: Já estacionei na quadra residencial pra ir no boteco.


(*)só explicando: essa expressão nasceu de um diálogo que ouvi num bar aqui em Brasília, na mesa ao lado da minha, em uma conversa entre duas pós-adolescentes ("ai amiga... tô cansada dessa vidinha de superquadra!") e que estava guardada na manga para utilização futura... enfim, chegou a hora. Mas ela ainda rende um caldo... aguardem.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Saarinen renasce em NY


Clássico de Saarinen sairá do ostracismo após 7 anos.

(Ainda dentro da fase “aeroportuária”... ossos do ofício. Vai passar)

Dentre os muitos ícones da arquitetura moderna em Nova York, um dos mais notáveis, sem dúvida, é o terminal 5 do aeroporto internacional John F. Kennedy. Projetado por Eero Saarinen sob encomenda da Trans World Airlines (TWA) e inaugurado em 1962, é uma obra emblemática, precursora do organicismo que influenciou gerações de arquitetos e que tem sua herança contemporânea mais expressiva nos trabalhos do catalão Santiago Calatrava, em obras como a estação ferroviária de Lyon-Satolas, na França, entre outras.

O projeto da Gensler, tendo o "T5" como ponto focal.

Desde a falência da TWA em 2001, ainda na amarga ressaca do 11 de setembro, o terminal 5 encontrava-se abandonado. Agora, sob a tutela da JetBlue, uma das mais bem-sucedidas companhias aéreas americanas do segmento “low-cost”, o célebre edifício está prestes a renascer. Ao custo de US$ 880 milhões, a JetBlue inaugurará este ano no JFK um dos mais modernos terminais de passageiros do mundo, que incluirá a revitalização da obra-prima de Saarinen. Com projeto a cargo do mega-escritório Gensler, o novo terminal conta com uma área de mais de 70.000m², estacionamento para 1.500 carros, e agrega o ícone modernista a um complexo contemporâneo top de linha, fazendo a ele a devida reverência. A própria companhia presta homenagem à obra, incluindo-a no logotipo do novo terminal. Passando pela grande maçã, a visita será obrigatória, mesmo que você não esteja embarcando.
O "T5" visto da parte nova do complexo, em imagem digital.

Em tempo, parênteses só a título de curiosidade: David Neeleman, cacique da JetBlue, tem cidadania Brasileira (nasceu em São Paulo, quando seu pai foi correspondente de um jornal, retornando mais tarde como missionário mórmon) e deve se valer desse subsídio que lhe dá amparo legal prara colocar em operação no Brasil, ainda este ano, uma comapnhia aérea destinada a explorar vôos de curto percurso entre os principais aeroportos do país. Para isso, conta com um investimento inicial de mais de US$ 200 milhões e tem já encomendada da Embraer uma moderna frota de 35 E-Jets da família 170-190. É esperar pra ver.

E pra finalizar, apenas divagando: Tivéssemos nós um modelo de gestão de aeroportos semelhante ao americano (onde a maioria dos aeroportos é municipal, muitos delegados à iniciativa privada), talvez a vandalização impiedosa da arquitetura original de terminais como Congonhas e Santos-Dumont e a construção de aberrações como o “novo” aeroporto de Porto Alegre pudesse ser evitada...
Para saber mais:

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Montevidéu: O novo aeroporto




Procurando uma forma de abrir este post, lembrei-me de uma parte de um ótimo texto de Gianfranco Beting, entusiasta da aviação e "publisher" do http://www.jetsite.com.br/ sobre os aeroportos do Uruguai, e que reproduzo aqui:
"o Uruguai ainda tem algo que há muito dou por perdido na cidade onde vivo, São Paulo, que tem uma população quase 5 vezes maior que todo o Uruguai; o que chamo de "escala humana:" tudo no Uruguai ainda parece ter o tamanho certo para a raça humana. O trânsito, as ruas, os bairros, as comunidades, as praias, os bancos, o comércio, os parques. Parece que tudo foi desenhado pelo Homem para o Homem. Tudo é razoavelmente perto, relativamente fácil. Tudo parece ter sido feito para desfrute e para servir."


Quem já visitou o vizinho sabe do que ele está falando: A menos que você desembarque na fervilhante Punta del Este em plena alta temporada de verão, não há dúvidas de que a vida lá segue em outro ritmo. A capital, Montevidéu, é tranqüila e serena (até demais, diriam alguns), mas vale, com certeza, uma visita. Até porque lá, além da melhor carne e do melhor doce de leite da face da terra, se encontram exemplares de uma arquitetura honestíssima (ofício aliás altamente desenvolvido no país), desde nas residências de bairros como El Prado, até em museus, hotéis, edifícios residenciais, chegando a edifícios corporativos contemporâneos.



Eis que, mesmo nesse ritmo sincopado de desenvolvimento, com um crescimento econômico (e populacional) pequeno, sempre ao sabor das ondas em que navegam os gigantes vizinhos Brasil e Argentina, faz-se necessária uma nova porta de entrada para o país: O antigo aeroporto internacional de Carrasco, em Montevidéu, após anos de adaptações, puxadinhos e anexos que descaracterizaram significativamente sua bela arquitetura neoclássica, jogou a toalha e ganhará um novo terminal de passageiros, a cerca de 800m do atual, cujas obras já estão em andamento.



Honrando a tradição da boa arquitetura uruguaia, o novo terminal responde à altura: Projetado por Rafael Viñoly, uruguaio radicado nos EUA, será sem dúvida um dos mais belos terminais de passageiros da américa latina, incorporando o que de melhor há em termos de projeto de aeroportos contemporâneos.


Em tempos de mega-construções de aeroportos em todo o mundo, com os de Dubai e Pequim encabeçando a lista dos gigantes em construção, o novo aeroporto de Montevidéu chama a atenção justamente pelo tamanho: É um terminal pequeno (embora comporte o dobro de passageiros do atual), contando, ao todo, com 7 posições de estacionamento de aeronaves em seu pátio (4 delas nos "fingers" do terminal e outras 3 para embarque remoto). Criticado em alguns fóruns na internet pela pouca capacidade, esse é um luxo ao qual só um país como o Uruguai pode se dar: Com uma população de cerca de 3 milhões de habitantes, sendo a metade concentrada na grande Montevidéu (o Rio Grande do Sul, com área semelhante, já conta uma população ao redor de 11 milhões), o novo terminal deve dar conta do recado por muito tempo, fazendo par com o ainda menor, mas igualmente belo aeroporto de Punta del Este, outro exemplar da boa arquitetura contemporânea uruguaia, mais destinado à aviação geral (aviões particulares, táxi aéreo, etc.) e vôos charters, e que costuma ter engarrafamento de jatos executivos na alta temporada.