segunda-feira, 13 de junho de 2011

Parco della Musica di Roma :: Renzo Piano

Um dos três cascudões do Renzo
Foi grande a vontade que eu tive de aproveitar o dia dos namorados e escrever um texto com paralelos e interseções entre relacionamentos e arquitetura... ou até escrever sobre pessoas ligadas à arquitetura que foram casados, namorados... casos de paixões, reais ou platônicas.... Charles e Ray Eames... Affonso Reidy e Carmen Portinho... Éolo Maia e Jô Vasconcelos... Philip Johnson e Mies van der Rohe... 
Também pensei que poderia escrever sobre os arquitetos que acabaram ultrapassando a barreira profissional com suas clientes.... Frank Lloyd e Mamah Cheney.... Edith Farnsworth e Mies (olha ele aí de novo)...  
Os ganchos que eu tinha para aproveitar a efeméride eram vários, mas no final achei que um cara que há meses está sozinho não tem moral para usar o dia dos namorados como gancho... então esperei chegar o dia de Santo Antonio e como o bendito casamenteiro não me inspira nenhum gancho, vou escrever sobre arquitetura mesmo.... 





A seta amarela é a Via Flaminia, por onde eu vinha caminhando desde a Piazza del Popolo... o círculo azul é o MaXXI... o círculo vermelho é o Parco della Musica e o círculo laranja é o estádio olímpico.,, a obra redonda entre o Parco e o MaXXI é o Palazzetto dello Sport, obra do Nervi para as olimpiadas de 1960.
O último texto pseudo-arquitetônico foi sobre o MaXXI Museu, obra da Zaha em Roma e neste texto em comentei que conheci o MaXXI em uma rica tarde ensolarada na cidade das sete colinas e que havia chegado ao museu após uma caminhada subindo a Via Flaminia desde a Piazza del Popolo e que durante essa caminhada eu tive duas boas surpresas, um  Renzo e um Nervi... hoje vou escrever sobre o genovês.
Vista sob o viaduto Flaminio, o cucuruto de um dos auditórios dando ar de vida para um viajante desavisado

Acho que a primeira vez que ouvi falar sobre o Renzo Piano foi em uma aula de Tópicos de Arquitetura do professor Henrique Rocha. O Henricão foi um dos meus bons professores, um professor "de mercado"... ele é titular do escritório Santini e Rocha, responsável por todos os projetos de novos prédios no campus da PUC.RS (entre outras coisas) e um apaixonado pela arquitetura.... uma vez por semana tínhamos a aula de Tópicos, que nada mais era do que um primeiro contato com o mundo arquitetônico... centenas de diapositivos (segunda palavra bacana do texto, é pra combinar com efeméride) de obras arquitetônicas... as aulas do Henricão foram o inicio de uma importante repertorização e foi em uma dessas aulas que um dia apareceu o clássico centro Pompidou, parceria do Renzo Piano com o Richard Rogers... bah, como aquelas fotos me impressionaram... eu não entendia muito bem o que eram todos aqueles tubos do lado de fora... não entendia, mas gostava.
Espécie de loggia levando à Cavea, um anfiteatro romano que fica entre as três salas de concerto e funciona também como um grande lobby à céu aberto... rodeado por oliveiras.

Desde 1997 o tempo passou.... com o tempo passei a entender as figurinhas que o Henrique mostrava... devorei livros e revistas (fica a dica, os blogs e sites são interessantes, mas nada substitui o papel), meu repertório cresceu consideravelmente... e é uma alegria cada vez que eu encontro ao vivo uma das figurinhas que estudei!!! 

E foi isso que aconteceu quando eu subi a Via Flaminia em direção ao museu da Zaha... de repente, não mais de que de repente... vejo à minha direita o Palazzetto dello Sport, um ginásio projetado pelo Pier Luigi Nervi para os jogos olímpicos de 1960 (em uma próxima postagem falo sobre isso)... me aproximei dele... tirei umas fotos... e nova surpresa, atrás de um viaduto eu vejo o cantinho de uma cobertura de chumbo... se via realmente um pouquinho, mas o suficiente para eu saber que ali tinha algo.... parecia com a minha afilhada Sophia quando se esconde, mas na verdade que ser vista... quer ser encontrada....





Vista da sala principal (Santa Cecilia), que tem capacidade para 2800 pessoas... sob ela a arquibancada do anfiteatro romano, a Cavea.

Me aproximando encontrei uma espécie de loggia que me levou à um anfiteatro romano circundado por três grandes besouros (ia chamar de escaravelho, mas aí resolvi me conter... efeméride e diapositivo já está de bom tamanho...) ao redor várias oliveiras... bah, por acaso estava eu dentro de mais uma figurinha... o Parco della Musica, um complexo formado por três salas de concerto (Petrassi, Sinopoli e Santa Cecília, respectivamente com capacidade para 700, 1200 e  2800 pessoas) em forma de cascudos... mais: áreas de uso comum e administrativas (livraria, café, escritórios...), quatorze salas para ensaios e aulas de música e a Cavea, um anfiteatro romano com capacidade para mais 2.800 pessoas que também funciona como se fosse um grande foyer à céu aberto, uma praça de acesso... que naquela rica tarde ensolarada estava tomado por pessoas que lanchavam, almoçavam... tomavam um chianti... um espaço público com vida e uso.
Vista aérea do complexo, foto descaradamente roubada do site do arquiteto.
O ambiente era muito bom, o sol inspirava uma pausa e o horário do almoço já tinha passado... mas era novembro, cada minuto de sol era sagrado e eu ainda tinha que chegar no MaXXI... resisti bravamente à tentação e segui minha visita... agora pela parte interna... 

Não encontrei um foyer bem definido, existem grandes circulações e escadarias sob a base dos besouros... o tijolos predominam e a qualidade executiva da obra impressiona. Tentei e não consegui visitar uma das salas principais, (mas nos links do fim do texto tu podes encontrar várias imagens delas) e como pedindo, de forma educada e civilizada, para visitar alguma das salas eu não tive sorte eu não tive outra alternativa que não partir para uma segunda via... tinha viajado muito para um italiano desdentado me dizer não... então vi um grupo de estudantes saindo de um corredor com seus instrumentos encaixotados.... não pensei duas vezes, fiz a minha melhor cara de "Ho dimenticato il mio trombone" e segui pelo mesmo corredor... o que encontrei foi uma das 14 salas de ensaio... e diga-se de passagem, que bela sala de ensaio!!!
qualcuno ha visto il mio trombone?
Antes que alguém descobrisse que além de eu não ter esquecido nenhum trombone eu também não sei diferenciar um trombone de um violino eu saí pelo mesmo caminho e dando uma última volta na área interna encontro uma surpresa... mais uma! Um pequeno museu arqueológico com o mobiliário todo atirantado... pra variar, belíssimo!!! 





Museu arqueológico







Daí alguém vai perguntar, por que diabos um museu arqueológico dentro de um complexo como esse? A resposta é simples... ROMA!!! Qualquer lugar que tu inventares de cavar um buraco tu vais encontrar algo com centenas de anos... e neste local não foi diferente, durante a preparação do terreno encontraram alicerces de uma villa do século VI a.C. e o arquiteto genovês adaptou o seu projeto (isso custou um ano ao cronograma da obra) para preservar o sitio arqueológico e também criou o espaço para um pequeno museu que expõe maquetes e informações sobre a villa e também alguns artefatos encontrados na escavação.

Alicerces de uma villa do século VI a.C. preservados dentro do complexo
Ainda dei mais uma volta pela área externa... subi as arquibancadas do anfiteatro e fui logo abaixo das grandes cascas que cobrem as salas de música... (ok, seguia buscando um caminho alternativo para entrar em uma das salas...) e não é que fui surpreendido mais uma vez! A estrutura das coberturas é construída com um misto de madeira laminada colada e tubos metálicos... lindo demais!!! 
Vista da estrutura de sustentação da cobertura, madeira laminada colada e aço.
E terminou aí a minha visita à obra do Renzo Piano... saí muito impressionado com a qualidade do complexo arquitetônico, com a sensibilidade na implantação, com o esmero construtivo... e principalmente, saí encantado por ver um espaço público e cultural sendo plenamente utilizado... esse foi um dos dias fáceis de perceber o abismo que há entre a realidade do nosso país em relação à realidade dos países desenvolvidos... sob este aspecto, nosso presente é triste e nosso futuro não parece ser muito distinto.
Panorâmica do conjunto
Salvo a foto aérea e a imagem do google todas são de minha autoria e se elas forem úteis podem utilizá-las sem fazer cerimônia... se indicar o crédito eu fico faceiro, mas se não der para indicar eu não vou ficar triste.


Para mais informações sobre a obra:
http://www.rpbw.com/ - site do escritório do arquiteto 
http://www.auditorium.com/ - site do complexo


P.S.: Peço perdão por algum erro de português, alguma frase desconexa ou diagramação ruim... faltou tempo para revisar a postagem com calma, mas prometo que durante a semana tiro uma horinha para fazer isso.

2 comentários:

  1. Oi Luciano, tudo bem? Acho que estavamos em Roma ao mesmo tempo, voltei semana passada! Semana que vem vou para a Quadrienal de Praga, e depois pra Berlim. E na volta, o blog renasce! Abraço!

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  2. Grande Alberto, satisfação ter notícias tuas.... na verdade estive em Roma novembro passado... mas sabe como é a desorganização e a falta de tempo, né? Só agora desovando as figurinhas... embora já me conformei que nunca vou conseguir desovar tudo o que tenho...

    Bah, não sei se tu já estivestes por lá... mas Praga é uma das cidades mais divertidas que eu já conheci... vale muito à pena, mas muito mesmo! Ainda mais essa época do ano... e Berlim é incrível! Depois de ter conhecido Berlim eu me arrependi de não ter ido antes até lá!

    Grande abraço, boa viagem e que o teu blog renasça firme e forte!

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