domingo, 14 de outubro de 2012

Una tapa preparada por suizos :: CaixaForum [Herzog & de Meuron, Madrid]

No traigas a este lugar aflicciones o problemas, ¡Déjalos en casa!. Y, si olvidado los traes, sal, mira al cielo y vuelve a entrar, dejando en la puerta estos. Este lugar es solo de alegría y amigos, se prohíbe la estancia en él a los que no respeten esta norma.
(Texto lido na parede de um tradicional bar de tapas madrileño)

Estava anoitecendo quando desembarquei na estação de Atocha. Um par de anos antes eu havia estado em Barcelona, mas aquela era a minha primeira vez em Madrid... Com a mochila nas costas e arrastando uma pequena mala de rodinhas caminhei cerca de oito ou dez quadras até encontrar o bed and breakfast que havia reservado pela internet... lugarzinho com preço bacana, instalações honestas e localizado impecavelmente na Calle de Atocha: metrô quase na porta, vários restaurantes ao redor, há alguns minutos de caminhada do Paseo del Prado e ao lado de um respeitável cinema pornô... 

Tão logo pude me dediquei ao mais divertido esporte espanhol, Salir de Tapas!!! A tapa nada mais é do que um petisco, uma pequena porção de comida que obrigatoriamente deve ser acompanhada por uma bebida, geralmente vinho ou cerveja... ouvi diversas versões sobre a origem do termo, mas a que mais me convenceu é que antigamente quando tu pedias uma bebida em uma taberna vinha sobre o copo um pedaço de pão ou de presunto cru para evitar que moscas caíssem ali... depois de beber a pessoa comia essa tapa... 
Praça coberta
Salir de Tapas, ir de tapeo ou simplesmente tapear é um esporte simples que consiste basicamente em entrar em um bar, se dirigir ao balcão (o tapeo legítimo se faz em pé), pedir dois ou três tipos de tapas, jogar conversar fora e partir para o próximo bar onde o ritual vai repetir... assim segue a noite: caminhando pela cidade, conhecendo gente e lugares novos, comendo tapas e bebendo...

E foi nessa Madrid que eu visitei a CaixaForum, um centro cultural fruto da intervenção projetada em 2003 pelos suíços Jacques Herzog e Pierre de Meuron em um pavilhão industrial compostos por duas grandes naves paralelas com fachadas construídas em tijolos à vista, base em pedra e oitões marcando seus telhados em duas águas. Uma estrutura que abrigou a Central Eléctrica de Mediodía e que possuía as características da arquitetura industrial espanhola do fim do século XIX.
Central eléctrica de Mediodía, antes de receber a tapa dos suíços
Apesar da coincidência com a Tate Modern, que também é uma intervenção realizada pelo Herzog & de Meuron em uma usina elétrica desativada, o arquitetura da CaixaForum Madrid não lembra em nada a elegante e minimalista intervenção realizada nas terras da rainha.

A base construída em pedras foi completamente desmanchada e deu lugar a uma espécie de praça coberta com um forro de formas geométricas muito parecidas com as que os suíços projetaram para o edifício que foi sede do Forum Universal de Barcelona, abaixo dela foram construídos dois subsolos para abrigar auditório e salas de conferência. 
escada do acesso principal
As paredes em tijolos foram conservadas, o telhado foi removido e no seu lugar foi construído um volume em aço corten de dois pavimentos onde se encontram uma grande sala de exposições, um café e também a área administrativa. 

Externamente a imagem do projeto é controversa. Dá a impressão que o programa de necessidades solicitado pelos espanhóis era muito extenso para o tamanho do prédio pré-existente e os suíços acabaram com a ingrata missão de servir um peru em um pires, mas não sei se isso é o suficiente para justificar o peso e a desproporção da volumetria final que resultou da duplicação da altura do prédio e da tentativa de fusão do novo com o antigo utilizando um material tão pouco etéreo quanto o aço.
café - cobertura
Já internamente o resultado é sensacional. A escada branca de forma irregular afunilando desde o último piso em direção ao subsolo... a luz que entra pelas chapas perfuradas de aço corten e formam sombras rendadas... a experimentação dos materiais... a geometria das aberturas... tudo está no lugar certo e forma um conjunto ímpar. 

A subversão da lógica ao remover a base e deixar o maciço parado sobre o vazio, criando um espaço público-privado, como se fosse mágica é um gesto arquitetônico de enorme qualidade... porém a maneira contundente que nova arquitetura se apresenta, a sua falta de proporção, condenou a velha usina à viver como um Frankstein urbano. Um mutante de bom coração que faz cara feia para que as pessoas que por ali passam não se esqueçam que os covardes, aqueles que se escondem sob o lugar-comum, não serão criticados, mas nunca farão a diferença.


•Fora a imagem do prédio antes da intervenção todas as outras são de minha autoria e podem ser utilizadas à vontade. 

•Livre tradução do texto que abre a postagem: Não traga para este lugar aflições ou problemas. Deixe eles em casa! Se por esquecimento os traz, saia, olhe para o céu e volte a entrar, deixando estes na porta. Este lugar é somente para alegria e amigos, se proíbe a permanência para aqueles que não respeitem essa norma.
foyer - subsolo
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